De Mário para Carlos

Carlos, Crocotó! Lá se foi minha viagem pra Minas mais uma vez! Fiquei desesperado foi do meu espevitamento de pôr as coisas como queria que estivessem postas, sem me lembrar que Deus é que dispõe. Explico o fato: Eu andei muito doente, mas pouco a pouco fui melhorando, todos os sintomas da doença se acabaram, estava certo de que estava curado. E o médico também. Até fiz extravagâncias fortíssimas por experiência e nada, um legítimo e integral exame pré-nupcial, como que esperando que este ano bissexto que trouxesse a digna esposa em que creio mais não me resolvo a campear. E o inflexível o crudelíssimo laboratório veio acusando ainda todos os delicados entezinhos de que eu me imaginava liberto… por algum tempo. Não eram virulentos mais, porém estavam ali, não se discute, estavam ali me convertendo numa esperança permanente de enfermidade. Ora, isso é inadmissível pra mim. Recomecei tratamento diário, por caminhos mais violentos pois que agora me sinto forte fisicamente, e posso agüentar trancos de febre alta e dores de propósito. E esse tratamento talvez se acabe pela Semana Santa justamente, pelo menos as autovacinas. Depois tenho as experiências e novos exames de laboratório, não posso partir. Tanto mais que Minas, sem pelo menos seis dias, não me convém.
Era impossível gastar o dinheirão da viagem sem pelo menos refazer Ouro Preto, Congonhas, Mariana, e Belo Horizonte. Fica mais uma vez adiado o nosso abraço, palavra que isso me aporrinha bem.
E é só. Fiquei com vontade de não conversar mais, pensando na contrariedade.
Agora não farei projetos mais, quando resolver partir, parto imediatamente, e telegrafo. Assim, vou hoje, vou amanhã, não vou mais hoje, etc. não dá certo não e até fica besta. Um dia chego e será bom. Ciao. O Manuel Bandeira está aqui em São Paulo por uma semana, mais gordinho, e o camarada de sempre. Hoje que é domingo, teremos tarde e noite juntos. Isto vai uma tristezinha de pensar você também aqui junto.
Um abraço verdadeiro do sempre, Mário.
~ Mário de Andrade a Drummond em “De Mário para Carlos” [*]

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