A mente como uma câmera ou como um espelho: a maturidade da mente, por Osho

Osho iluminaçãoO dia 21 de março de 1953 é conhecido como o dia da iluminação do célebre mestre indiano Osho (1931-1990), nascido Rajneesh Chandra Mohan Jain, data em que ele descreve como o início do seu estado de não-ser, e de ter dançado “a música mais antiga do universo“. Na noite daquele dia 21, sob uma árvore maulshree, no Jardim Bhanvartal, em Jabalpur (Índia), ele descreve o dia em que “uma condição sem questionamento chegou“. E diz: “não é que eu tenha recebido uma resposta. Não. Ao invés disso, todos os questionamentos simplesmente se desmontaram e um grande vazio foi criado.” (trecho do livro “Autobiografia de um Místico Espiritualmente Incorreto”).

Como lembrança desse ser que passou e deixou tantos lampejos para o caminho do auto-conhecimento de tantas pessoas, segue abaixo um desses, onde ele fala sobre maturidade e o estado de aprendizado constante da mente, de abertura para o novo. O trecho está no livro “A Música Mais Antiga do Universo“, com a parte inicial da tradução da Verus Editora (2009, 212 pgs), que publicou o livro no Brasil em português, e a parte final da tradução deste blog.

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A MÚSICA MAIS ANTIGA DO UNIVERSO [Trecho] Por Bhagwan Shree Rajneesh, o Osho

Pensar que você sabe é ser imaturo. Funcionar a partir do conhecimento, da conclusão, é ser imaturo. Funcionar a partir do não-conhecimento, da não-conclusão, do não-passado é maturidade. A maturidade é a confiança profunda em sua consciência; a imaturidade é a desconfiança em sua consciência. Quando você desconfia de sua consciência, confia no conhecimento, mas este é um substituto muito fraco. Tente compreender isso — é importante. Em sua vida, você tem experimentado muitas coisas; tem lido, escutado, pensado. Agora, todas essas conclusões estão aí. Diante de determinadas situações, você pode funcionar de duas maneiras. Pode funcionar por meio de todo o passado acumulado, de acordo com ele — é o que eu chamo de funcionar através de um centro, de conclusões, da experiência banal, morta —, e, não importa o que você faça, sua resposta nunca será de fato uma resposta, e sim uma reação. Ser reacionário é ser imaturo. Ou, se você funcionar agora, neste momento, por meio de sua consciência, de sua percepção, deixando de lado tudo que sabe – o que eu chamo de funcionar através do não-conhecimento —, estará funcionando por meio da inocência. Isso é maturidade.

Eu estava lendo uma piada:
Parecia ao Sr Smith que agora que seu filho tinha feito 13 anos, era importante conversar sobre aqueles assuntos que um adolescente deveria saber sobre a vida. Então ele chamou o garoto numa certa noite, fechou a porta cuidadosamente e disse com uma dignidade marcante:
— “Filho, eu gostaria de discutir os fatos da vida com você”.
— “Claro, pai”, disse o garoto. “O que você gostaria de saber?”

A mente é imatura quando não está pronta para aprender. O ego se sente muito preenchido se não precisa aprender nada de ninguém; o ego se sente avançado se acha que já sabe. Mas o problema é que a vida segue mudando, nunca é a mesma; segue fluindo, é um fluxo. E seu conhecimento é sempre o mesmo. Seu conhecimento não está evoluindo com a vida, está parado em algum lugar do passado, e sempre que você reage você perde o sentido porque não será exatamente a coisa certa a fazer. A vida muda mas seu conhecimento permanece o mesmo, e você age baseado nesse conhecimento. Isso significa que você vive o hoje com o conhecimento de ontem. Você nunca será capaz de estar vivo.

Agora deixe-me lhe contar um paradoxo: cada criança que é inocente é madura.
A maturidade não tem nada a ver com a idade porque não tem nada a ver com a experiência; a maturidade tem a ver com responsividade, frescor, virgindade, inocência. Por isso quando uso a palavra “maduro”, não quero dizer que quando você for mais experiente você será mais maduro. Isso é o que as pessoas geralmente querem dizer quando usam essa palavra — eu não quero dizer isso. Quanto mais você reúne conhecimento, mais sua mente se torna imatura; e quando você chega aos setenta ou oitente, vocÊ será completamente imaturo porque terá um velho passando para funcionar.

Quando uma criança pequena… sabe nada, não tem experiência, ela funciona aqui e agora. Por isso as crianças podem aprender mais do que as pessoas mais velhas. Os psicólogos dizem que se uma criança não for forçada a aprender, não for forçada a ser disciplinada, ela pode aprender qualquer língua estrangeira em três meses. Apenas deixe-a com pessoas que sabem a língua e ela vai captá-la em três meses. Mas se você a força a aprender, levará quase três anos, porque quanto mais você força, mais ela começa a funcionar sobre o que ela aprende, através do conhecimento de ontem. Se ela é deixada sozinha ela se movimenta livremente, espontaneamente; o aprendizado vem fácil, sozinho, no seu próprio ritmo. QUando a criança chega aos oito anos ela aprendeu quase 70% do que quer que ela vai aprender na sua vida inteira. Ela pode viver 80 anos, mas aos 8 terá aprendido 70% — ela vai aprender apenas 30% mais, e cada dia sua capacidade de aprender será menor e menor e menor. Quanto mais ela sabe, menos ela aprende.

(…)

Sócrates disse em sua terceira idade, “Agora sei que nada sei”. Isso é maturidade. No seu final ele disse, “Não sei nada”. A vida é tão vasta. Como pode essa pequena mente saber? No máximo, alguns lampejos são suficientes. Mesmo eles são demais. A existência é tão tremendamente vasta e infinita, sem início, sem fim… como pode essa pequena gota de consciência sabê-la? É suficiente quando alguns lampejos vem, algumas portas se abrem, alguns momentos acontecem quando você entra em contato com a existência. Mas esses momentos não podem ser transformados em conhecimento. Sua mente tende a fazer isso – então ela se torna mais e mais imatura.

Então a primeira coisa emque você deveria ser capaz de aprender e sua capacidade de aprendizado nunca deveria ser oprimida pela conhecimento, nunca coberta por pó. O espelho do aprendizado deveria permanece limpo e novo para que possa continuar refletindo. A mente pode funcionar de duas maneiras. Pode funcionar como uma câmera: uma vez exposta, finalizada – o filme imediatamente se torna conhecido e perde sua capacidade de aprender. Exposto uma vez e já sabe – agora é inútil; agora não é capaz de aprender mais. E então há um outro tipo de aprendizado – aprender como um espelho. Exponha o espelho por mil e uma vezes, não faz diferença – você pode chegarna frente do espelho, você está refletido; se você sair, o reflexo sai. O espelho nunca acumula.  O filme na câmera imediatamente acumula – grava, segura, mas o espelho simplesmente reflete: você chega na frente, você está nele; você sai, você se foi. Esse é o caminho para se manter maduro.

— Osho, em “A Música Mais Antiga do Universo”

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