Entre estar acordado e estar dormindo: Robert Adams e o caminho para a liberdade

É uma apologia à meditação e à auto-investigação, à auto-percepção e à intensidade da observação da vida, usando termos e situações do dia-a-dia, diferentes de grandes retiros ou outras práticas: observar o espaço entre estar dormindo e o estar acordado pode ser o início de um mergulho fundamental para a descoberta de si mesmo, segundo o autor americano da tradição indiana do Vedanta Robert Adams (1928-1997), autor de “Silence of the Heart” e “All Is Well”. Ou, nos termos dele, pode lhe colocar no caminho para que “a consciência venha até você“. Ele menciona condições, como fazer todo dia, mas o principal talvez seja mesmo a repetitiva importância que ele dá a movimentos como “perceber”, “perguntar-se”, “descobrir” e “investigar”. Como está no texto abaixo, traduzido do satsang “Good For Nothing Man” (na íntegra, em inglês, neste link).

Perceba que você não é a pessoa que pensar ser. Tente entender a cada dia que você não é o corpo-mente, que você não é nada do que parece ser.

 

Descubra investigando. “Quem sou Eu?”. Descubra. Todas as respostas estão dentro de você. Comece de manhã. Logo antes de você acordar, há uma abertura, um espaço entre dormindo e acordado. Aquele espaço é sua realidade. Tente se capturar naquele espaço no momento antes que seus olhos se abrem, antes que sua mente assuma o controle. Há absoluto nada. Aquele nada é sua realidade total.

 

Quando sua mente assume o controle, “Eu” assume o controle, e estraga tudo. Seu dia ocupado com muitos “tenho que” começa. Se você se visse como consciência e fosse capaz de ver o espaço, você passaria o dia inteiro em completa felicidade.

 

Quando você for dormir, faça a mesma coisa. Tente encontrar o espaço entre acordado e dormindo assim que você estiver quase caindo no sono. O espaço é quem você realmente é. Esse espaço é consciência, Nirvana. Se você procurar o espaço, você vai encontrar. Continua a buscar quando você acorda. Pergunte-se “Quem está acordado, quem sou Eu?”. O “Eu” aparece quando você acorda, e vai desaparece quando você vai dormir. Pra onde vai? Vai praquele espaço. Assim que você entra no sono, o “Eu” começa a enfraquecer à medida que o “Eu” para de pensar. Pra onde o “Eu” vai? Vai praquele espaço. Esse “Eu” está sempre disponível pra você.

 

Esse espaço também é conhecido como o quarto estado de consciência ou turiya, depois do sono profundo, do sonhar e dos estados acordados. O espaço é o quarto estado – sua realidade. Apenas estando ciente disso intelectualmente ajuda. Então você pensa, “Eu sei que há um espaço lá mas ainda não o captei”.

 

Então pergunte-se, “Quem é o Eu que dormiu. Quem é o Eu que sonhou? Quem é o Eu que está acordado? Quem é o Eu que está procurado pelo espaço? É a mesma coisa. Pergunte-se, ” De onde isso aparece? Parece aparecer quando acordo, e vai embora quando vou dormir. Pra onde vai?”. Vai para o espaço – o aquele entre o dormir e o acordar.

 

Quando você for dormir, diga, “Eu penso. Eu penso sobre meu dia, meus problemas, o que eu tenho que fazer amanhã. Quem éo Eu que faz tudo isso? Assim que eu dormir, o Eu começa a enfraquecer. Eu paro de pensar. Para onde o Eu vai?”. Ele vai para dentro do espaço. Faça isso de manhã ao acordar, e continue esse tipo de investigação durante o dia. “Quem sou eu? O que sou eu?”.

 

Quando você faz esse processo com uma frequência suficiente, todo dia, a consciência vem até você. A consciência se abrirá pra você. Você começará a perceber que tudo que você fala está conectado com o Eu. O Eu vem primeiro, e tudo mais vem depois disso. Para estar chateado é precisa que você diga, “Eu estou chateado”. Você não pode dizer “chateado”. Tudo é apego ao Eu. Veja esse Eu. Não se concentre no Eu, concentre-se na consciência, a fonte.

 

Siga o Eu nas profundezas do seu coração mergulhando dentro de você mesmo, e para quem é o Eu? Pare, então pergunte de novo e de novo, parando a cada vez. Logo você irá ver que as pausas são a mesma coisa que o espaço entre o dormir e o acordar. Você será livre.”

~ Robert Adams, em “Good for Nothing Man”

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