Deus existe? Paul Auster, Spike Lee, Jonathan Franzen, David Lynch, Salman Rushdie e outros respondem

Existiria por acaso um tema mais importante do que este?“, pergunta-se o Professor da Universidade de Nova York, cineasta e escritor italiano Antonio Monda, no primeiro capítulo do livro “Deus e Eu” (Casa da Palavra, 2007). Monda foi buscar em figuras destacadas do meio cultural ocidental as respostas para o dilema da existência de Deus (ou da limitação humana de conhecer essa resposta) e entrevistou personalidades como Spike Lee, Paul Auster, David Lynch, Salma Rushdie, Martin Scorsese, Jonathan Franzen, Derek Walcot, Jane Fonda, Michael Cunningham, entre outras, todas relacionadas no livro, uma entrevista por capítulo, e abaixo seguem alguns trechos das respostas, como está aparecendo em alguns blogs (e como eu vi no blog da amiga Marina W).

Apesar das respostas não serem grandes filósofos, estudiosos da psicologia ou mestres da escolas de sabedoria, os nomes de cineastas e autores (a maioria que compõe a lista do livro) são importantes pois são artistas reconhecidos (que muitas vezes implica em alguma capacidade superior de percepção e tradução de expressões humanas pulsantes), além de serem autores de grande parte da cultura de massa que é consumida no mundo.

“Se Deus existe, como Ele nos fala? O que nos diz? Temos condições de compreender Sua linguagem? E nós, como falamos com Ele?”.
~ Antonio Manda, em “Deus e Eu”

Seguem as respostas de alguns dos nomes entrevistados pro livro.

O senhor/ a senhora acredita em Deus?

Paul Auster, escritor: Não. Não acredito. Mas isso não quer dizer que não considere a religião um elemento culturalmente fundamental da existência.

Saul Bellow, escritor: Sim.
E como o imagina?
Não gostaria de falar disso. Temo correr o risco de banalidade e creio que esse é um daqueles assuntos em que a conversação mortifica a grandeza do tema.

Michael Cunningham, escritor: A parte mais grave de mim mesmo, aquela que está seriamente decidida a não se deixar enrolar por ninguém, diz: “O que está esperando? Admita: Deus é uma coisa que inventamos para poder viver com a consciência da nossa mortalidade.”.Ou, se preferir que eu enfrente a pergunta (…) digo que suspeito de que existam relações profundas e ainda não descobertas entre Deus e os princípios da física. E eu acredito na física.

Nathan Englander, escritor: Não sei. Tenderia a dizer que não acredito, se não tivesse medo de uma reação dele.

Richard Ford, escritor: Não.

Paula Fox, escritora: Não. E sobretudo não creio na imagem comum de Deus, masculina.
(…) Mas creio no mistério e na beleza. E ambas as coisas acabam por encontrar uma representação. Considero que aquilo que é definido como Deus é a resposta que cada um de nós encontra para obedecer a uma lei interior própria.

Jonathan Franzen, escritor: O que você entende por Deus? Que definição dele você dá?
[Um ser onipotente que nos criou] A verdade é que não tenho uma resposta precisa. Uma parte de mim acredita, mas tem problemas muito sérios para definir esse ser onipotente. Eu certamente não creio na imagem clássica de Deus. Sei que não é um ser onipotente que domina tudo o que existe como se estivesse diante de um posto de comando. Francamente, não acredito no Deus que responde às preces, mas acho que tudo o que vemos com os nossos olhos e vivemos com os nossos sentidos é, na realidade, uma ilusão. Não sou materialista, e além dessa ilusão, sei que existe algo de maior e importante. Creio que existe algo de eterno e tenho um grande respeito por qualquer experiência mística. É uma parte essencial da minha vida.

Spike Lee, cineasta: Não.
[O que a fé representa pra você?] Uma coisa que não tenho.
(…) Sinto que existe uma presença, mas não sei se posso chamá-la de Deus.

Daniel Libeskind, arquiteto: Sim.
[Qual sua ideia de Deus?] Não tenho uma ideia precisa, nem creio que seja possível ter uma.

Corpus Hypercubus, Salvador Dali – 1954

David Lynch, cineasta: Creio que existe um ser divino, onipotente e eterno. Estou convencido de que existe alguma coisa, aliás muitas, que nós não conhecemos e das quais vemos apenas as aparências.

Toni Morrison, escritora ganhadora do Nobel: Creio em uma inteligência interessada naquilo que existe e respeitosa daquilo que criou.

Grace Paley, contista, poeta e ativista política: Não. Mas tenho um interesse profundo pelas bíblia. De um ponto de vista histórico e literário.
[Acredita na figura histórica de Cristo?] Sim, com certeza, e acredito que foi um dos maiores e mais profundos pensadores da História. Negar isso seria, além de tudo, um ato de ignorância.

Salman Rushdie, escritor: Creio que nunca acreditei.
[O senhor acredita na alma?] Creio que existe algo de misterioso e incompreensível, que, no entanto, não é transcendente ou sobrenatural. Uso, portanto, o terno “alma” porque não existe nenhum outro mais eficaz ou mais secular. Em outras palavras, creio em uma alma mortal.

Arthur Schlesinger Jr., historiador e crítico social: Sou agnóstico.
[Como o senhor se coloca diante da morte?] Não pode existir paraíso sem inferno. Mas eu não acredito em nenhum dos dois. Creio que a morte é, simplesmente, o fim.

Martin Scorsese, cineasta: Não creio que possa dar uma resposta precisa. Acredito que minha fé em Deus reside em minha busca constante. Mas defino-me certamente como católico.

Derek Walcott, poeta, dramaturgo e artista plástico: Sim.
[E como é esse Deus?] É difícil, aliás, impossível, separá-lo da imagem que me foi inculcada desde a infância. Um homem branco de barba, Sábio e velho.
[Mas além dessa imagem, o que vê?] Não vejo nada além do risco da banalização. Sob alguns aspectos, além dessa imagem começam as dúvidas.
[E que relação o senhor tem com esse Deus?] Inconstante.

Elie Wiesel, sobrevivente dos campos de concentração nazista, Prêmio Nobel da Paz: Sim, por certo.
[Posso perguntar como o imagina?] Certamente que pode me perguntar, mas eu tenho de responder que não o imagino.

(…)

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Compartilhado por Marina W.
Foto de Digo Souza (licença de uso BY-ND Creative Commons)

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