Lavando os pratos para lavar os pratos: consciência, presença e o milagre da vida na pia da cozinha, por Thich Nhat Hanh

thich nhat hanh lavar pratos pia presençaÉ comum a segunda-feira chegar e já pensarmos na sexta, ou, numa semana como esta, na terça, no feriado de quarta. Poucos de nós conseguimos realmente “lavar os pratos enquanto lavamos os pratos“, viver a segunda-feira enquanto a segunda-feira está aqui. O monge Zen e autor vietnamita Thich Nhat Hanh em mais um inspirado e simplíssimo texto, do livro “O Milagre da Atenção Plena“, escreve enquanto está escrevendo para quem lê enquanto está lendo.

Nós?

“Enquanto estiver lavando os pratos, deveríamos apenas lavar os pratos, o que quer dizer que enquanto lavamos os pratos deveríamos estar completamente conscientes do fato que estamos lavando os pratos. Parece meio bobo assim à primeira vista: porque dar tanta preocupação para uma coisa simples? Esse é exatamente o ponto. O fato que eu estou lá em pé lavando aqueles pratos é uma realidade incrível. Estou sendo completamente quem sou, seguindo minha respiração, consciente da minha presença, e consciente dos meus pensamentos e ações. Não há como ser lançado dali inconsciente como se fosse uma garrafa batendo nas ondas aqui e ali.

 

(…)

 

Se enquanto estivermos lavando os prato pensarmos somente na xícara de chá que nos espera, assim apressando a lavação dos pratos que eu possa me livrar deles como se fossem um transtorno, então não estamos “lavando os pratos para lavar os pratos”. Mais que isso, não estamos nem vivos durante o tempo que estamos lavando os pratos. Na verdade, estamos completamente incapacitados de perceber o milagre da vida enquanto estamos ali na pia. Se não conseguimos lavar os pratos, há grandes chances de não conseguirmos tomar nossa xícara de chá também. Enquanto tivermos bebendo o chá, estamos pensando em outras coisas, dificilmente conscientes da xícara em nossas mãos. Assim somos sugados para o futuro — e incapazes de viver sequer um único minuto de vida.”

 

– Thich Nhat Hanh, em “O Milagre da Atenção Plena (The Miracle of Mindfulness)

 

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Foto cortesia de Paul Meyer [licença de uso BY-NC-ND Creative Commons]

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24 Comments

  1. Que texto incrível! Eu sempre pensei nisso, de como as situações simples da vida têm um significado tão rico! Na realidade, qualquer momento da vida é rico, mas nos falta estar presentes no agora e não deixar a mente voar para o futuro, para as idealizações do possível ou para o passado choroso! Bom texto para ir dormir refletindo!
    Paz!

  2. A VIDA SE VIVE EM CADA MOMENTO PRESENTE DO AQUI E D0 AGORA E EM CADA MOMENTO OU ESTAMOS VIVOS COM A PLENA ATENÇÃO AO QUE ESTAMOS FAZENDO, SEJA O QUE FOR, COMO LAVAR OS PRATOS P/EX. OU ESTAMOS NÃO-VIVOS, PERAMBULANDO COM A FALTA DA PLENA ATENÇÃO ÀQUELE MOMENTO. ISSO, THICH NHAT HANN NOS TRANSMITE COM TODA A LUCIDEZ DA MENTE QUE FLUI PELO BEM DE TODOS OS SERES.

  3. says: norma

    Ganhamos a vida através do que recebemos.
    Construímos uma vida através do que damos.
    W. Churchill

    e diante da preciosidade do ‘momento’ – já que não podemos rebobiná-lo e resgatá-lo -, por ser único no (eterno) AGORA, dar Atenção Plena é a chave mestra para experivenciá-lo em sua plenitude. Acho que é questão de treinamento (disciplina), porque qdo se vê já se fugiu para o passado ou correu para o futuro. Ou seja, vou em busca de lugares que não existem mais ou ainda, por estar no ‘automático’. Que ingênua que sou, Mestre! :)
    Grata e boa sorte, Norma

  4. says: Flor Baez

    Não há nada mais sagrado, mais real, do que o estado de presença. É um desafio nos mantermos conscientes das nossas ações… Vivemos como se estivéssemos dormindo. Lindo texto! Nos faz recordar que não tem tempo mais precioso do que o agora.

    Abraços,
    Flor

  5. says: Edvaldo Gonçalves

    Mestre Thay, sua grande sabedoria se expressa na profundidade dos temas e na simplicidade com que os aborda. Sem fantasias, sem prolixismos. Simples, direto e profundo. Sabedoria “prét-à-porter” use sem moderação!

    Grato!
    Ed.

  6. says: Graça

    Aqueles que se sentiram acuados com a falta de sentido da existência, quase sempre, se tornaram buscadores.Entre esses, aqueles que viveram muitas estações,com certeza, já viram em inúmeras tradições espirituais a referência á “presença da plena consciência” como fator fundamental á uma vida plena de significado, e que torna possível a experiência do “real”; não distorcido pela imagem que, continuamente, criamos do mundo, em nossa cabeça.
    Inúmeras técnicas são ensinadas para atingir este estado, entretanto, pouquíssimos o conseguem.
    Creio que nos falta determinação,atitude firme para perseguir com afinco essa meta, colocando-a como prioridade absoluta em nossas vidas.Temos a tendência de colocar á dianteira das metas espirituais, as materiais e/ou emocionais, e assim continuamos pela vida,confusos, inventando motivos para continuar…
    Paz e luz para todos!

  7. Vivemos em um momento de muitas diversidades, estamos a todo momento em todos os lugares, acostumamos em nossa mente a presença ausente, sempre procurando momentos futuros para não sermos pego de supresa, quando na verdade o futuro é feito do presente, estar presente no momento presente e sentir-se inteiro, é ter a empatia do que se faz, material e espiritualmente é dispor-se por inteiro em sua ação, usar de todo o seu conhecimento sabedoria e ainda fazendo uma troca com a ação presente.Fique quarenta e cinco minutos sentado em uma ponte vendo a correnteza da água passar e presencie coisas que jamais me seria permetido se ali não estivesse presente. Concluo não existe maior presente do que estar presente. jcpeloia

  8. says: sergio

    Gostaria de saber que língua é esta que estas três pessoas , Norma , Hassan e Camila usam. Será parte do aprendizado …?Definitivamente NÃO É português.

    1. says: norma7

      Oi Sérgio,

      Desculpe-me, mas realmente não é Português e muito menos aprendizado. Não é nada, apenas ERRO.

      (mas foi muito divertido (ahahah!) o seu coment., pena que o meu a respeito do Post ficou prejudicado)

      Sabe o que aconteceu? Houve uma ‘instabilidade’ no Blog Dharmalog e todos os sinais gráficos (acentos, cedilhas, etc) não foram lidos e ficou aquela bagunça.

      Por exemplo, a abaixo, é a frase que abriu o meu comentário:

      “Ganhamos a vida através do que recebemos.
      Construímos uma vida através do que damos.”
      W. Churchill

      veja lá em cima como ficou.
      Acho que o mesmo ocorreu com os outros citados.

      Agora, Sérgio, vc não acha que se tivesse observado um pouquinho só, teria chegado a essa conclusão sozinho?
      (^.~) Abçs.

      Boa Sorte, Norma

    2. says: norma7

      Sérgio,

      Voltei do almoço com a sensação de não ter sido completa em m/resposta (reply) ao teu coment. Faltou te cumprimentar por teres se disposto a perguntar s/o que não fazia nenhum sentido para ti. Bacana isso de se ‘aprender’ a pensar! Qdo se ‘aprender a pensar’, princ. sobre como as ‘coisas’ funcionam em e para voce, tudo clareia.
      Parabéns!
      Norma

  9. says: Igor

    Acabo de reconhecer um grande defeito meu. Quero agradecer de plena consciência e emoção a quem trouce luz e sabedoria pra minha razão.

  10. says: Florenza

    Parece tão simples, mas de simples nada tem justamente porque não nos preparamos pra viver a simplicidade. Facilmente nos acostumamos a não estar em lugar algum: o passado já foi, o futuro não chegou e o presente… desperdiçamos. Muito grata por compartilhar, Nando!

  11. says: Renata Franzé

    Simplesmente fantástico! Este texto nos faz refletir em dois pontos: Dar valor e total atenção em tudo que fazemos, assim podemos “saborear” verdadeiramente aquele momento único, que mesmo repetitivo, ele não voltará mais. E segundo, ele nos ensina a vivificar o agora sempre, se nós nos disciplinarmos e conseguirmos agir desta forma, a nossa vida não seria uma maravilha? Comer sem levar problemas à mesa, dormir sem acordar na madrugada com preocupações na mente. Pode parecer difícil, mas que tal se nós começarmos com coisas simples? (lavando louça?)

  12. says: Giovanna

    Que leitura maravilhosa. E que difícil a tarefa de fazer as pazes com o tempo, de viver o agora, celebrar o momento. Mas é isso aí, lavar os pratos enquanto lavamos os pratos! Gratidão.

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