Sri Prem Baba e o principal aspecto da jornada: criar união e desarmar o mecanismo do isolamento e separação

“(…) Criar união é o principal aspecto da jornada. E por que a entidade humana em evolução não tem desembocado no mar de paramatma? Porque tem sido muito desafiador criar união. Como eu disse ontem, mahamaya caprichou nesse sentido. A grande maioria da humanidade escolheu esse mecanismo de defesa para se proteger, que é o isolamento e a separação, o que, por sua vez, alimenta a ideia de um eu indefeso. Esse é um ciclo vicioso. A entidade isolada e separada alimenta a ideia de que é indefesa, ou seja, de que ela é uma vítima. Assim, ela passa a culpar o outro.

 

E como tem sido difícil desarmar esse mecanismo, pois ele é tão sutil e está tão profundamente enraizado na mente humana que se torna difícil identificá-lo. Você age a partir dessa vítima e não percebe. Você constantemente repete os jogos de acusação e não percebe. Essa é a distorção básica do feminino e é o que impede a aceitação de ser iluminada. É a ideia de vítima que impede que a aceitação seja iluminada. Se você não aceita não é possível criar união, porque na jornada existem florestas, desertos, montanhas, vales, entre outros muitos desafios. Você não pode vencer esses desafios se estiver isolado. Até porque esse isolamento é uma ilusão. Na verdade, estamos unidos. A resistência consiste em aceitar a verdade. Por isso a mentira é a nona matriz do eu inferior, pois ela age tão rapidamente que você não percebe, e acaba se identificando. Estando identificado com a mentira você teme a verdade, porque a verdade significa o fim da mentira.

 

Mas, qual é a sua parte? É fortalecer o observador. É reconhecer que a mente é um lugar de peregrinação e não se identificar com o que é transitório. É não se identificar com a mente, mas sim com o Eu divino. Esse é um tipo de trabalho que acontece de momento em momento, de instante a instante você se renova; você nasce a cada instante. Uma fração de segundo e já foi; volte para o presente. Porque você somente pode encontrar o Divino na presença. A identificação com o eu inferior ocorre com o tempo psicológico. Aprofundando a sua observação, você perceberá que quando está sofrendo, amargando no inferno, é porque está identificado com o eu inferior – você está no passado ou no futuro.

 

Você só vai para o futuro porque existe uma parte sua presa no passado. E é essa parte que cria a fantasia do futuro, e faz você sonhar acordado. Nas suas fantasias você está sempre tentando mudar o passado, tentando conseguir o que não conseguiu antes e fazendo com que as coisas aconteçam diferentes. Então, você precisa estar disposto a deixar os peregrinos passarem. Os peregrinos são os pensamentos.

 

Onde você está? Se você está aqui, não há obstáculo para a união. Se você está aqui, há aceitação. Aqui não existe apego. Eu estou lhe convidando a acordar do sonho a cada instante. Onde você está? Se você está na mente, há uma tendência de ser arrastado pelos pensamentos. Se você sustenta o vazio, você sustenta o silêncio; se você sustenta o silêncio, você sustenta o êxtase. Todo o segredo está em colocar a mente a seu serviço.”

~ Sri Prem Baba, em satsang de 22 de janeiro de 2013, Índia (veja na íntegra)

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5 Comments

  1. says: Áurea Lacerda Cançado

    Amigos,

    Esta mensagem me proporcionou uma compreensão mais ampliada desta colocação de Ítalo Calvino que me acompanha a (ou há?…kkkkk português falhando…) muito tempo:

    “O Inferno dos vivos não é algo que virá a ser: se houver um, ele já está aqui, o inferno onde vivemos todos os dias, que criamos por estarmos juntos. Há dois modos de deixar de sofrer com ele. O primeiro é fácil para muitos: aceite o inferno e torne-se parte dele de tal forma que não o veja mais. O segundo é arriscado e exige constante vigilância e cuidado: procure e aprenda a reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não são inferno, e então faça-os resistir, dê-lhes espaço.”

    Obrigada,

    Áurea

    Em tempo: foi assim que Ítalo Calvino terminou “Cidades invisíveis”.

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