TEDxDaLuz [2]: uma outra forma de organizar é possível, sem estresse, com tempo, presença e alegria

É possível ser o organizador de um grande evento – como o TEDxDaLuz, que segundo a equipe levou 9 meses para ser gestado – e durante todo o dia em que ele acontece você passear tranquilamente, sem pressa e sem preocupações pelo ambiente, conversando com todos os participantes que lhe abordam? É possível você ser o organizador de um evento desses, com mais de 20 palestrantes em um único dia, e dançar suavemente com sua filha durante o almoço, curtindo o momento como se fosse apenas alguém da platéia que espera pela próxima palestra? É possível você se arriscar a organizar um evento desses pela primeira vez, em São Paulo, e, durante todas as palestras, você ter o tempo para ouvi-las, atentamente, sentado no chão com a filha em suas pernas, e se envolver, e se levantar, e agradecer cada um com um grande abraço, e apresentar o próximo convidado com as honras que ele gostaria de receber? É possível você, ao final do evento, com todas aqueles serviços de terceiros e apoios de evento para “dar jeito”, agradecer a todos que vieram lhe abraçar pessoalmente, levando o tempo que fosse preciso com cada um?

Isso foi o que vimos acontecer no TEDxDaLuz, dia 20 de novembro em São Paulo. Não foi uma palestra, foi a condução e a vibração da equipe do evento, principalmente da curadora, organizadora e ‘hostess’ Mariana Cogswell, que conduziu o TEDx com esse tempo, essa presença e essa alegria. No papel é sempre tão admirável e na realidade é sempre tão raro.

É algo tão diferente do que costumamos ver “normalmente”, quando organizadores andam catatônicos pra lá e pra cá e parecem se imputar mais importância por não ter tempo disponível, não valorizam a atenção ou simplesmente não conseguem estar legitimamente presentes para apreciar o que investiram tempo de suas vidas criando. E nada consegue captar tanto a beleza e a energia de um momento do que estar nele, com todos os seus sentidos e sem fabricações. Nenhuma festa vip pós-evento, nenhuma farsa de auto-importância nem exibição de pressa se sobrepõe à elegância de uma calma alegria genuína, da dedicação de coração e da energia da presença integral de uma pessoa que está onde as coisas estão, com tudo que ela é.

O evento se propôs a trazer à tona inconformidades, buscas e experimentações, e esta veio de bônus. A inconformidade com o método do estresse auto-centrado e focado no problema, que levou à experimentação de uma maneira saudável, focada nas pessoas e na espontaneidade.

Não conheço a Mariana, não participei da organização e não sei quantos problemas podem ter sido resolvidos nos bastidores, mas nada disso a impediu de parar e fazer do jeito que acreditava ser o melhor — e talvez nem tenha exatamente pensado, mas simplesmente sido, a partir de uma alegria genuína de estar fazendo o que gostava. Houveram falhas, porque vimos no início que a Internet e os monitores não funcionaram, mas foram contornados com simplicidade, sem constrangimentos nem perfeccionismos. “Ainda bem que eu estou com rímel à prova d’água” não foi sua confissão de alívio pra conseguir encarar os problemas, mas seu cuidado estético pra lhe permitir se envolver com as pessoas e suas histórias de maneira integral.

No fim do evento, no palco e descalça com sua equipe, agradeceu feliz às 200 pessoas e aos 20 palestrantes por terem vindo. E nós a ela, por ter vindo e estado o tempo todo ali, realmente ali.

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4 Comments

  1. says: mirna grzich

    Nando, que perfeita visão e apreciação sobre a organização da Mariana! Eu também fiquei emocionada com isso,e impressionada com a clareza de suas palavras, fosse apresentando pessoas, fosse encerrando um momento, tudo vindo do coração. Que bom que vc fez um remark disso, muito importante. Assisti a tudo de casa, pelo streaming, e assino em baixo dos seus comentarios. Obrigada por estar atento a tudo isso, por fazer este Dharmalog de um jeito tão amoroso e sem autoimportancia.

    1. Foi realmente brilhante, não foi Mirna? Essa condução da Mariana deixou o evento todo mais leve e bonito. Obrigado pelas palavras sobre o relato e por comentar, gostei muito de saber que você viu pelo streaming e também curtiu.

    2. Uau, Nando… e ah, Mirna…
      Não sabia que era possível ver o que eu sentia. Me dá imensa gratidão ser vista como você me viu, Nando. Obrigada por sua disposição de escrever. Fico imensamente feliz com a sua homenagem. Essa era a minha intenção verdadeira. Fazer algo onde não me esforçasse. Onde pudesse me aceitar no momento e a partir daí, fluir com tudo e todos.
      Honestamente? Achei que seria criticada por isso… para mim, foi uma ousadia… é uma surpresa incrível a qualidade dos relatos que venho recebendo. Eu me experimentei fora das máscaras. Era um risco, mas o desejo de ser era infinitamente maior. Só não imaginava que a colheita seria essa.
      Fico comovida, tocada.
      Querida Mirna, nem fomos apresentadas formalmente, né? Mas já te sinto muito próxima… obrigada por ter estado junto no dia. Só com a sua presença à distância devo ter recebido muitos anjos… e isso sim, eu percebia. Estava lotado de todo tipo de seres de alta potência de luz ali. Era incontrolável e lindo! Que bênção pensar que quando conectamos as pessoas que estão prontas para a entrega é esse tipo de milagre que convocamos… vamos fazer mais encontros assim, não?
      Beijos, amor e gratidão :-)
      Mari

    3. Que maravilha ter tuas palavras aqui, Mari. Obrigado a você pela ousadia. E por vir deixar umas letrinhas pra nós sobre tua experiência e criação. O post fica feliz de ver você aqui.

      No fundo, acho que somos todos instrumentos dessa energia crescente de conscientização que tá circulando e se incubando em diversos pontos, e colapsando (copyright Isadora Migliori, rs) a partir de quem se mostra pronto e/ou receptivo. Como a Mari, como o TEDxDaLuz, como outros eventos e reuniões que estão aparecendo. Como os próprios casos de transformação que vimos no TEDx. Como Occupy…

      Vamos fazer mais encontros assim, por favor. Já começou…

      bjs, paz & amor.

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