Quanto vale uma vaca orgânica

A primeira pergunta é, na verdade, quanto custa fazer bom jornalismo na área da saúde. Custa o salário da jornalista Kim Severson, que teve sua matéria “An Organic Cash Cow” publicada na edição de hoje do New York Times. Oásis de jornalismo simples e bem-feito.

A matéria é sobre o consumo humano e o mercado do leite orgânico. É saudável? Quanto? De onde vem? O que é preciso para ser orgânico? Vale a pena pagar mais? O que se ganha com isso? O texto começa com um caso pessoal, uma mãe que quer começar a dar leite saudável a seu filho de um ano, e passa por todas as mais diretas questões que envolvem o consumo do leite orgânico: o tratamento da vaca com grãos ou pasto, a validade do leite, pasteurização ou ultra-pasteurização, antibióticos e hormônios, gosto, propriedades nutritivas, curativas, ecologia, etc. O mercado orgânico hoje nos Estados Unidos é de 3% e cresce rápido (o povo quer saúde, não hormônios ou comida plastificada) e o leite é considerado uma ponte do consumidor “trash” para o “consciente”. Talvez pq o leite seja muito consumido e esteja associado a uma cacetada da processos metabólicos do ser humano (e uma coisa leva à outra, né). A discussão mais prática hoje não é sobre a superior salubridade geral do alimento orgânico, mas quanto do que se diz orgânico nos rótulos hoje é, de fato, orgânico.

(…) The ethos of organic milk – one that its cartons reinforce – conjures lush pastures dotted with grazing animals, their milk production driven by nothing more than nature’s hand and a helpful family farmer. But choosing organic milk doesn’t guarantee much beyond this: It comes from a cow whose milk production was not prompted by an artificial growth hormone, whose feed was not grown with pesticides and which had “access to pasture,” a term so vague it could mean that a cow might spend most of its milk-producing life confined to a feed lot eating grain and not grass.

Uma das coisas que o jornalismo de saúde e de indústria em geral poderia se engajar é num périplo de fiscalização do consumo, e o orgânico seria uma das áreas mais beneficiados. Mas todos os processos industriais, e não só de alimento, poderiam ser parte desse itinerário. Com foto, vídeo, weblog, em tempo real. Eu assinaria uma publicação dessas tranquilamente.

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7 Comments

  1. says: Mauro Pin

    Engraçado é que, apesar da discussão sobre “orgânico” ou “não orgânico” seja interessante (fundamental), nem sempre se discutem coisas anteriores…por exemplo, faz sentido tomar leite? Não está na hora de desmamarmos?

    De qualquer forma, bom saber que tem gente escrevendo sobre coisas desse tipo na imprensa, gente aparentemente preocupada de fato com a desinformação da indústria de alimentos “saudáveis”.

  2. Interessante, vou ler o artigo. Essa historia de organico sempre me intriga, porque parece que vale qualquer coisa de fundo de quintal com a desculpa de que nao teve pesticida ou foi industrializada, mas nunca vi esses produtos passarem por testes de higiene por exemplo…

  3. says: nando

    MAURO: a necessidade de se tomar leite não existe, pq não existe a necessidade de se comer ou tomar nada em específico. Praticamente tudo é substituível. Mas o leite é muito nutritivo e é o primeiro de uma série de diversos outros alimentos nutritivos que a gente usa comumente na cozinha hoje (queijos, manteiga, ghee, creme, molho, bolos, etc). Há uma cultura sonâmbula que vive da compra e consumo automático, mas isso não é específico do leite. Eu acho que o orgânico é um passo para tratar as vacas com respeito e devoção.

    SONIA: ao alcance da maioria só no socialismo. No capitalismo há a lei da oferta e da procura. Quanto mais “ricos” comprarem, mais procura e oferta vai haver, e quem sabe o preço caia. Apenas cuidado com o termo “rico” e “pobre”. No interior agrícola, vc encontra leite orgânico barato. Nos centros urbanos é que vc tem que comprar caixinha e aí paga caro.

    LU: essa é uma das coisas que os EUA está se mexendo para conferir (e que eu acho que o jornalismo poderia ajudar MUITO). Mas aí já entra um pouco no “perfil” do consumidor. Eu, se pudesse escolher, tomaria o orgânico-orgânico, ou seja, eu seria um “purista” nesse quesito. Mas tb gostaria do selo, como vc. Isso ainda vai requerer uma ação mais rigorosa. Mas estamos no caminho, não? :)

  4. says: Laura K

    Leite talvez seja bom, mas talvez seja dumal.
    Sendo uma pessoa genericamente alérgica [e não alérgica especificamente a lactose], tento evitar leite e derivados pq eles pioram sensivelmente minha alergia.
    Segundo a medicina chinesa, leite acaba gerando fleuma, como se o organismo estivesse sempre excessivamente úmido, o que prejudica o fluxo do Qi (o que não é nada bom pq energia desequilibrada gera doenças).
    Por enquanto minha balança mental pende para o lado que diz “leite: evite”, pq eu acredito em medicina chinesa :)

  5. says: nando

    Dumal o leite não é, Laura. Mas existem alergias (ao leite e à lactose), como é o teu caso. O Ayurveda (medicina indiana) sabe que essas alergias e quase toda incompatibilidade de alimentos depende do tipo da pessoa, da composição e da fisiologia dela (e às vezes apenas do momento, vrikrutti). Leite é um alimento rico em proteínas e pode ser um aliado dos vegetarianos, mas como é de origem animal, e desses animais de hoje, tratados em nível industrial sem Qi nenhum, há toda sorte de problemas.

    O Ayurveda vê o leite com bons olhos, afinal a Índia trata a vaca como animal sagrado, no sentido de ser “the greatest giver”, e é de lá o ghee, um alimento milenar rico e medicinal feito à base de manteiga. O conceito de fleuma deve se relacionar com o conceito de kapha e ama no Ayurveda, que estão relacionadas com composições mais densas e com toxinas (que bloqueiam a passagem natural de prana), respectivamente.

    Acho que a tua balança não é nem mental, é física. Se há a alergia e ela se agrava com o leite, evite mesmo. Mas à exceção dos incompatíveis, com equilíbrio, harmonia, não há malefício, há benefício. :)

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